Senhor, a centésima ovelha não é
a alma que cai exausta, não é como a cabra caprichosa, que partiu ao sopro da
independência, que inebria a centésima : ela era a mais triste do aprisco, a
menos bela, aquela que se desespera.
Ela começou arrastando-se atrás
do rebanho, já indiferente ao barulho das fraternas patinhas e afastando-se da
poeira.
O cachorro de seu dono por vezes
a tinha mordido, sem compreendê-la, e o próprio dono a tinha ferido com seu
cajado, e este golpe, mesmo suave, lhe tinha doído muito.
Um dia, ela preparou sua fuga, no
desvio de um caminho da roça rodeado de cercas.
Viu-se então livre para ir sozinha ao encontro da morte.
Durante um momento, ela teve
saudade do aprisco bem protegido, à noite, em um cercado, no calor mútuo das
lãs sujas.
Afastou-se.
Ouviu seu nome nos lábios do
pastor cuja voz, para ela, tinha se
tornado mais severa há algum tempo.
Abafou o eco.
Agora ela estava, de fato,
sozinha, sem sofrimento, sem inveja, simplesmente abandonada.
A noite caiu.
Ela adormeceu de desgosto e de
tristeza, com o sono inevitável e agitado do jardim da agonia, no fundo de um
arbusto, na pedra.
Um barulho de galhos afastados
despertou-a, ela sentiu-se erguida.
E reconheceu, sem abrir os olhos,
o bom calor costumeiro das mãos do seu dono, vindo só para ela, reconheceu o
calor de seu pescoço.
A centésima ovelha, Senhor, é a
alma que não tem esperança.
(Padre Joseph Doucet)
Ao contrário de algumas interpretações absurdas, o bom pastor, não quebra a perna de sua ovelha para traze-la de volta pra casa, mas a pega com carinho, e a coloca nas costas com amor.